Este blog que foi feito com o objetivo de contar-lhes como uma menina nascida e criada no Plano Piloto sobreviveria nos subúrbios da capital da Costa Rica. Foi feito para que as lembranças de dois anos surreais não se perdessem nos labirintos da memória. Foi feito para impedir que eu enlouquecesse quando entupida de sentimentos até o topo da cabeça.
Pensei inúmeras vezes no que seria apropriado escrever neste post. Mesmo depois de tanto dizer adeus pela vida ainda tenho certa dificuldade em escolher as palavras certas para estes momentos. Então o que vai aqui é só um bando pensamentos soltos, sem edição. Sentimentos que se debatem dentro de mim como ondas em dia de ressaca.
Eu sabia que me dariam uma das bolsas de estudo caso chegasse à etapa final. Não porque pense que sou um ser superior nem nada do tipo... simplesmente porque quem nasce em casa de advogados aprende a argumentar, a ter razão mesmo utilizando-se de falácias. Porque dominar as palavras sempre foi meu trunfo.
A verdade é que a menina que ganhou essa tal bolsa era nada mais que isso: uma menina. Uma menina que poderia muito bem ter continuado uma vida linear, saindo de um dos melhores colégios do Brasil para uma das melhores universidades federais para um emprego que lhe desse estrutura. E essa poderia ser uma bela vida, sem dúvida. Mas não é para mim. Nunca foi. Por alguma razão que desconheço, nasci com uma inquietação crônica que me impede de ser feliz caso não esteja escrevendo por linhas tortas. Me sinto sufocada com uma facilidade incrível. Tenho fortes ganas de fazer tudo o que se pode fazer in one life time.
Continuando a saga de uma das três meninas que foram enviadas para representar o Brasil no United World College Costa Rica entre os anos de 2009 e 2011, ela foi. Aos dezessete anos de idade, depois de viver toda uma vida de conforto de classe média brasiliense, sem nunca ter se preocupado em colocar o próprio prato de comida. E foi arrebatada por um furacão de novas informações, todas de uma só vez. Precisou expelir um mar pelos olhos até que finalmente pudesse ver a beleza do que estava para viver e apaixonou-se com tamanha intensidade que era possível prever que um outro oceano se formaria quando chegasse a hora do adeus...
Seria impossível listar as mudanças pelas quais passou neste período. O que posso dizer com certeza é que esta tal menina já não é quem costumava ser. Aprendeu a falar menos e fazer mais. Aprendeu a estar sozinha - em todos os sentidos possíveis dessa palavra. Aprendeu a se virar. Aprendeu que não se precisa de muito mais que uma mochila, um passaporte e pernas para viajar. Aprendeu que limites são linhas imaginárias que um coloca em si mesmo.
Saio do meu casulo exibindo as maiores e multicoloridas asas que você já viu. Voarei por aí de flor em flor, sem medo, sem preocupar-me em demasia pelo que não posso controlar. Sei que vez ou outra virá um vento mais forte que me vai obrigar a procurar abrigo, mas logo passa. E logo que passe me porei outra vez de pé, sempre em busca do que está além.
A quem interesse, meu futuro ainda é meio incerto, meio wishful thinking. Meus planos incluem ficar em Brasília por agora, viver e trabalhar em um Kibbutz em Israel no próximo semestre e só então entrar na universidade, obviamente algo entre Letras e Creative Writing, quem sabe Literatura.
Agradeço de coração pelos comentários, pelos e-mails. Obrigada mesmo por me acompanharem nesta jornada.
E agora, como já até virou rotina nesta minha vida, me despeço.
Adeus.