No "open house" deste ano - quando os membros do staff que moram no campus cozinham e abrem suas portas para os alunos - acabei por não passar por todas as casas. No dia seguinte, encontrei o Gustavo, coordenador de CAS e atividades extra-curriculares, chegando tarde ao colégio e lhe perguntei "mas porque trabalhar até agora??" Ele me disse que não estava trabalhando, que estava voltando pra casa. Ele estranhou minha surpresa ao me dar conta de que ele havia passado a morar no campus e disse "então você não veio pegar a sobremesa ontem?" sobraram algumas, passe lá em casa e eu te darei".
A constante falta de tempo sob a qual vivia me impediu de fazê-lo e no dia seguinte, depois do almoço, alguém me toca a porta. Tavo segurava algo entre gelatina e pudim em uma taça. Agradeci muito e lhe prometi uma sobremesa brasileira em troca. Obviamente fui motivo de piada, "queridinha do staff" por algum tempo. Também tive que deixá-lo enfiar a mão no meu prato e pegar meu último plátano um par de vezes já que ainda não havia feito a tal sobremesa pra ele.
Quando fui buscar minhas malas, ele estava lá e lembro de ter reparado em como nos olhava com carinho. Fazia tempo desde que os últimos estudantes haviam saído do campus e tanto ele quanto a Leila, coordenadora da vida residencial, nos contaram das saudades que sentiam de nós. Me despedi pedindo que cuidasse bem de minha casa e ele disse que só estava começando, que ainda havia muito que fazer pelo colégio e que o faria con mucho gusto.
Mas não é essa vida uma caixinha de surpresas? E no domingo à noite eu vi a tal notícia no Facebook e me recusei a acreditar... até que tudo foi ficando mais real, saiu no jornal e tudo mais. Ainda não há detalhes, só sei que seu corpo foi encontrado já sem vida em uma rua deserta. Duas facadas no peito foram a causa de sua morte tão prematura.
Muitas coisas passa pela minha cabeça... me enoja um pouco a hipocrisia de pessoas que declaravam publicamente o quão mal pensavam dele e agora se puseram mais que deprimidas online. Me assusta pensar no frágil que é a vida, na possibilidade de cada adeus ser eterno... nas sobremesas que não deveríamos ter deixado para fazer mais tarde. Me indigna, me causa um puta nó na garganta pensar que alguém tirou a vida de alguém que era a pura definição de estar vivo.
Tem que ter justiça. Tem que ter.
Sério, tem que ter justiça.
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