As fotos não estavam mais preenchendo cada uma das paredes do quarto que foi meu por um ano. Do quarto cujas paredes serviram vez de abrigo vez de cela. Do quarto que refletia o caos e a beleza do universo que tenho em mim.
Olhei em volta e o que vi foram os restos do que um dia pude chamar de meu.
Alguns dias depois, com as residências já trancadas, andei completamente só pelo colégio. Cada passo dado me levava a algum lugar que continha um pouco de mim, de minha história. Caminhei pelos últimos dois anos da minha vida em alguns minutos.
Ainda nesta noite, fui ao Bar Amigos e tomei minha última Imperial. Escrevi meu nome em marcador negro em uma das paredes. Caminhei por entre as mesas de sinuca e na pista de dança improvisada.
Enquanto o táxi me levava desde o colégio até San José, olhei a cidade que foi minha pela última vez. Vi Santa Ana embaçada pelas lágrimas que teimavam em cair. Passei pelas ruas nas quais costumava caminhar em dias de sol ardente ou chuva inesperada. Sorri ao pensar que por mais que não conheça cada canto do tal vilarejo, conheci até o cerne alguns lugares e que estes sim se transformaram em meu lar.
Pensei nos fantasmas que devem andar por estes lugares. Fantasmas de outras vidas que aconteceram ali, dos momentos que tornaram pessoas o que elas são hoje. Pensei que não passamos de efemeridade. Não passamos de entretenimento barato para as paredes, portas, janelas que nos cercam. Elas sim duram. Nós? Nós vamos e voltamos e não paramos quietos.
Sei que voltarei em algum momento da minha vida. Mas sei também que já não será o mesmo...
É que até o estático se transforma e vira uma versão do que foi um dia.
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