quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ALERTA.

Essa é uma daquelas histórias que serão bem divertidas de contar no futuro e que provavelmente vou me gabar do quanto viver na Costa Rica me atiçou o espírito aventureiro. Porém agora é simplesmente incômodo.
Estamos na época de chuva e é de praxe chover no fim da tarde. Com isso estamos acostumados. O que aconteceu nestes últimos dias foi que não parou de chover o tempo todo e isto causou um deslizamento em uma das montanhas aqui na área de Santa Ana. Aparentemente, há perigo de esse "pedaço de montanha" obstruir um rio. Caso continue chovendo depois da obstrução, o tal "pedaço de montanha" poderá ser arrastado até Santa Ana Centro, onde o colégio é situado.
Os alunos foram instruídos a fazer uma malinha pequena pro caso de o colégio precisar ser evacuado. E nessa estou: vou fazer minha mala para a possibilidade de uma enchente atingir minha casa.
Para saber como anda a situação se nos cortarem energia e internet e comunicação se tornar impossível por uns dias, aqui está o site onde haverá notícias relativamente atualizadas: UWC Costa Rica.
Nos desejem sorte!

ao mesmo tempo...

... olha a loucura que tá acontecendo no Equador.

domingo, 26 de setembro de 2010

que ya no sé si voy o estoy de vuelta.

Abri a porta do quarto, parei em frente ao espelho e ali fiquei sorrindo como boba. Lucy levantou os olhos da tela de seu laptop e disse "O que aconteceu? Você desapareceu o dia todo!" ao que lhe respondi "Tive um dos melhores dias da minha vida UWC".
Encontrei Amália (Espanha) quando voltava de uma visita a Tortuguero e acabamos conversando por uma hora na rede antes de decidirmos comer uma sobremesa no restaurante italiano que é segunda casa do pessoal aqui do colégio, Ramiro's. Enquanto esperávamos por nossa comida, Tino (Líbano) sentou-se conosco e ali ficamos por outra hora, falando das coisas mais aleatórias que se pode imaginar.
Estas duas pessoas são umas coisas na minha vida! Ama é uma das pessoas mais incríveis que já conheci... e ela diz o mesmo de mim. Nos amamos horrores! E, mesmo assim, nunca manejamos passar tempo suficiente juntas. Então sempre que nos vemos assim, por sorte, aproveitamos muito bem a chance. Conversamos como se fôssemos as pessoas mais próximas do mundo... porque assim nos sentimos. E o Tino... bem, ele é um ser humano muito peculiar. Ele é um dos melhores amigos da Marie (França), então sempre tivemos um ligeiro contato. Porém somente este ano tivemos oportunidade de realmente conversar e nos aproximamos muito. Um domingo desses nos encontramos no Amigos e depois de um par de cuba libres ele me disse: "Passei o ano passado todo tendo uma má impressão sua e descobri agora o quanto gosto de você..."
Quando voltamos ao colégio, encontrei a Clara (Paraguai), que me procurava para irmos ao show incrível que esperamos a semana toda por - não sei se essa construção semântica faz muito ou qualquer sentido em português, perdão por isso. Fomos eu, Clarita, Elena (Bélgica), Misa (Japão/Nova Zelândia), Janne (Finlândia) e Simon (primeiro ano da Bélgica). O concerto foi no teatro do colégio onde The Ex estudava antes, Conservatorio de Castella e ele nos esperava na porta. Logo que entramos o espetáculo começou.
A primeira banda, Amarillo, Cian y Magenta, é simplesmente incrível. Suas músicas são instrumentais e deliciosas, tanto para relaxar quanto para dançar. E não foi possível assisti-los sentada; na segunda música fomos para detrás das cadeiras.
Eu estava dançando loucamente de olhos fechados quando senti alguém tocar meu braço. Era uma guria com crachá da produção. "Entiendes español?" Respondi que sim. "Eu vi que você tá dançando aqui... se quiser pode ir para o espaço perto do palco, onde aquela senhora está." A tal senhora a qual ela se referia era uma hippie gringa com quem conversamos sobre vibes e energia positiva... uma figurassa.
A segunda banda, Malpaís, conseguiu ser melhor ainda. Já os havia visto ao vivo, no início do ano passado, mas não os conhecia e não aproveitei o bastante. Desta vez foi diferente. Cantar "pero quien mal comienza mal acaba" a plenos pulmões e acompanhar todas as canções sabendo as letras fez tudo melhor. No meio da minha música preferida, chegaram Sofia (Equador), Maria Alejandra (Colômbia) e Malena (Uruguai), e foi tão lindo vê-las neste exato momento. Dançamos, gritamos e suamos até não poder mais! Nem sei que adjetivos posso usar pra descrever...
A última banda a se apresentar foi Son de Tikizia, que dizem ser o melhor grupo de salsa da Costa Rica. E não ficou por baixo... dancei da primeira à última canção sem nem parar pra descansar. By the way, descobri que o tal sangue latino também corre nas veias do primeiro aninho belgo, que foi meu dance partner até o fim da noite.
Voltamos só meninas de ônibus; eu deitada na Sofia, todo mundo tentando se recuperar de toda a ação. Compramos comida gordinha no Cachiburguer e comemos no Amigos. Quando voltávamos pro cole, começou uma chuva louca que nos deixou encharcadas. Foi o final perfeito para uma noite inesquecível.
Em dias como este me encanta estar neste país!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"una vez en Kula, siempre en Kula"

Eu não tenho Biologia, nem Física, nem Química. Nunca gostei de ciências, então quando cheguei aqui e vi que havia uma matéria classificada com Ciência e Humanidade ao mesmo tempo, não pensei duas vezes: Sistemas Ambientais e Sociedades é para mim!
Durante meu primeiro ano tive aulas com um ser humano que não deixou boas lembranças pra nada... e perdi mais ainda a fé em ciências.
Este ano tenho uma nova professora, Shirley, que nos disse na primeira aula que não queria que essa fosse só mais um matéria que estudamos para ter um diploma, mas que fosse algo que levamos para a vida.
Sempre quis mais do que análises e laboratórios. O que temos agora são discussões sobre algo que é esquecido muito facilmente pelas pessoas: que qualquer sistema está conectado e que não se pode fechar os olhos para problemas que parecem distantes... porque não estão. E cada uma de nossas ações pode ter mais influência do que se pode imaginar.
Hoje falamos de fome. Sabia que no Congo 69% da população passa fome? Quem são os 31% que com comida na mesa todo dia..? O governo, os estrangeiros... quem mais?
O que mais me deixa triste é que nem num colégio como este em que estou tais temas são citados suficientemente. E me dá medo de virar só mais uma riquinha que se refere à "África" como um todo e se gaba de ter estudado num UWC. Espero nunca virar parte deste tipo de sistema.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Persepolis.

Listen. I don't like to preach, but here's some advice: You'll meet a lot of jerks in life. If they hurt you, remember it's because they're stupid. Don't react to their cruelty. There's nothing worse than bitterness and revenge. Keep your dignity and be true to yourself.
(lhe roubei um post, Diana, mas por uma boa causa. e espero por um e-mail teu em minha caixa de entrada)

danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas...

Decidi que a única coisa que faria sentido naquele momento era tomar um café no Doris. Peguei minha bolsa, me pus um xale carmim e saí. Sentei no bar do restaurante, pedi um cappuccino e escrevi umas várias páginas no diário, porque senti uma vontade louca de pôr em palavras todos os pensamentos que andaram passando pela minha cabeça nesse domingo improdutivo.
Bem mais tarde, quase na hora de dormir, olho minha caixa de entrada e lá está um e-mail do irmão me dizendo algo como "parece que você está mais independente nessa nova fase, adaptada a viver sozinha".
Como prova de que Adriano e eu somos siameses ligados pela mente, compartilharei um trecho do que escrevi durante esta tarde:
"(...) resolvi ler o mês de setembro de 2009 do meu blog para lembrar o que sentia - ou simplesmente porque sou assim de egocêntrica. a conclusão a que cheguei foi a mais óbvia possível: tudo está diferente. sinto que cresci muito e estou muito feliz de ter registros escritos de tal mudança. o que mais me parece diferente é que agora eu me controlo. não fico tresloucada sob pressão. (...) outra mudança evidente é a maneira como me vejo: sou uma mulher, não uma menina. e me respeito muito mais. (...) cada dor ensina algo... e aquelas que vivi me ensinaram a tomar responsabilidade pelas consequências de minhas escolhas."
Esse foi pra ti, irmão... escrito ao som de Bob Dylan e temperado com muita, muita saudade. Esqueci de colocar na réplica ao teu e-mail, mas aqui está: Eu amo você.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

any last words?

Estávamos fazendo uma atividade para entendermos o porquê de fazer serviço social aqui no colégio e o que poderíamos melhorar no sistema já existente. Todos os alunos, primeiros e segundos anos, foram divididos em grupos aleatórios para realizar tal atividade.
Depois dos jogos e discussões, enquanto Clarita (Paraguai) nos dava as últimas instruções, me pus a olhar o círculo de pessoas na sala de aula #1. Éramos 22 pessoas de 20 diferente países!
País de Gales, Alemanha, Paraguai, Afeganistão, Venezuela, Áustria, Índia, Bélgica, Costa Rica, Barbados, Polônia, Bolívia, Trinidade e Tobago, Canadá, Nigéria, Equador, Estados Unidos, Israel, México, Brasil.
Todos esses países em uma só sala. O que senti imediatamente foi uma onda de alguma emoção muito forte me trazendo água aos olhos.
Então quando a Clara perguntou se alguém queria compartilhar algum último pensamento, levantei minha mão sem hesitar.
- Look around this room. We have 20 different nationalities represented here... this is the only time you'll ever experience something like that. This place is just amazing. Take advantage of it.
- Dê uma olhada à sua volta. Temos 20 diferentes nacionalidades representadas aqui... e está é a única vez que vocês terão uma experiência como essa. Esse lugar é simplesmente incrível. Aproveitem isso.
Disse isso quase deixando uma lágrima cair pela minha bochecha.
Quando saímos da sala, Ejiro (Nigéria) me abraçou e disse que entendia o que eu estava sentindo. Que era terrível que a experiência fosse tão curta - um ano como freshman e outro como senior. E que por mais que o fim fosse uma dor certa, tínhamos muita sorte de viver algo tão singular.
Claro que sempre tive isso como certo. Mas pela primeira vez realmente senti isso. Depois de mais de um ano como UWCer.
Não poderia concordar mais com Ej... esse lugar me maravilha cada dia mais.
(post feito paralelamente leitura do blog do meu co-year no Pearson (Canadá), Vicente)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Independência da Costa Rica!

Meu primeiro pensamento de hoje foi: eu não acredito que o Juan Pa (Venezuela) não está aqui...
O que passa é: hoje teve o desfile de Independência da Costa Rica e, no ano passado, as melhores fotos foram provenientes do talento dele... que já não está aqui conosco.
Para os segundos anos, o dia teve uma mescla tensa de saudades. De nossos segundos e de nós mesmos. Porque nos demos conta de que esse seria nosso último desfile pelas ruas de Santa Ana vestindo nossos trajes típicos e carregando (orgulhosamente) nossas bandeiras sob um sol matador enquanto os moradores se amontoam para tirar fotos nossas/conosco.
Esse é um momento lindo que vivemos aqui, quando é perceptível que estamos num Colégio do Mundo Unido de fato. Essa coisa de globalização faz todo mundo ser meio parecido, então é belo ver as holandesas em seus vestidos de camponesinhas doces ou as africanas parecendo princesas - se tem um continente com national costumes interessantes é África!
O ápice da beleza para mim é ter fotos com um grupo de pessoas que inclui Israel, Bolívia, Afeganistão, Hong Kong, Venezuela, Etiópia, Filipinas... não é a coisa mais onírica que poderia existir?
Me encanta isso, me encanta estar aqui e poder representar o Brasil. Sambar no asfalto quente e queimar meus pés, responder a perguntas bestas sobre meu país, ensinar português a quem queira aprender... Me encanta pensar que o mundo pode ser assim: centenas de nações saindo pelas ruas carregando as bandeiras uns dos outros e caminhando lado a lado.

domingo, 5 de setembro de 2010

easy like sunday morning.

Estamos sem internet decente desde que voltamos do acampamento, e só hoje pude limpar meus e-mails, escrever para um par de gente, pesquisar sobre a vida futura... Estou aqui há exatamente duas semanas e parece que muito mais tempo já passou. Muito mais vida já aconteceu... e me encanta isso.
Durante o ano passado todo tive medo de ir embora sem levar pessoas que realmente me importam. Porém estes dias me mostraram que é mais que certo que encontrei soul mates aqui; gente que farei de tudo para encontrar depois que acabe a experiência... gente que já virou parte de mim.
Desculpe pelo melodrama.
É que nesse momento eu 'tô apaixonada pelos meus amigos. Apaixonada por nossa intimidade. Apaixonada pelo que somos um para o outro.