terça-feira, 6 de abril de 2010

eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome.

Caminhava pelo campo de frisbee e lá estavam aquelas cores de novo: o cinza e o verde. Lembrei da tarde que passamos juntos no parque. Eu estava almoçando com a única pessoa no campus que come tão lentamente quanto eu, a irlandesa segundo ano. Ele me perguntou se eu gostaria de ir com ele. Era uma terça-feira, e eu lembro disso porque me senti culpada por faltar ao tutorial de matemática. Lembro de, ainda no ônibus, encostar minha cabeça no ombro dele, que brincava com os anéis nos meus dedos. "Você trouxe casaco? Vai chover", ele me disse. "Mas com esse calor??" "Vai chover..." Ele estava errado, não choveu. Mas começou a fazer frio. Ele não segurou minha mão para aquece-la. E isso me suscitou à lembrança daquele puto jantar de Valentine's Day, o Dia dos Namorados gringo, quando "enfeitaram" a cafeteria com luzes cor-de-rosa nojentas e eu me recusei a comer lá. Quando voltei do jantar alternativo que tive - Pizza Hut e sorvete com meu segundo aninho - ele passou no meu quarto para pedir desculpa por ter esquecido a data. Em meu usual estado de raiva durante nosso conturbado "romance", só respondi que não era his fucking girlfriend. Caminhamos a tarde toda por aquele parque, e foi quando lhe disse que estas cores juntas sempre me remeteriam aos meus tempos de Costa Rica. Em nenhum outro lugar que estive - não que a lista seja longa - me deparei com tantos dias cinzentos onde as folhas pareciam fluorescentes de tão verdes. Lhe contei dos dias alaranjados nos Estados e dos pores-do-sol multicoloridos que só Brasília tem. Nessa hora ele não falou nada, só me olhou com uma mirada já conhecida. Paramos no teste de som que uma orquestra que estava para tocar fazia. Um dos músicos, amigo dele, veio cumprimentá-lo e fui apresentada como "uma amiga do Brasil". No ônibus, na volta, lhe perguntei qual era a relevância da minha nacionalidade. E foi aí que tudo acabou pela última vez. Já passou um tempo desde essa tarde no parque. Já passou muita coisa... Enquanto caminhava pelo campo me deu ganas de escrever sobre essas cores e sobre ele. E sobre o fim. Devo admitir que duas lágrimas gordinhas cresciam nos meu olhos ao repassar um momento e outro. Não de tristeza, mas de... nostalgia. Sabe, nostalgia em espanhol, não em português. Há uma certa diferença: os hispanohablantes vivem sem a palavra saudade, o mais próximo que sentem é essa tal nostalgia. E eu estava sentindo assim, em espanhol. Em espanhol mal-hablado. Deitada no meu lugar preferido neste colégio, a rede entre El Coco e Malpaís, com os olhos mareados, expelia palavras aqui e ali - soaria muito prepotente dizer que me sinto inspirada? - entre o oral de Inglês, o ensaio de Espanhol e esse post, quando um certo alguém colocou uma cadeira ao meu lado e, enquanto me balançava de um lado para o outro, fez a agonia dentro de mim evaporar sem que eu percebesse. ...mas eu não posso falar dele ou das nossas conversas; apertamos as mãos nos prometendo que tudo que fosse dito seria mantido entre nós dois. For a minute there I lost myself, I lost myself...

2 comentários:

  1. Como você escreve bem! Parabéns. É muito bom ler o que você escreve.

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  2. Ai Bethinha... que lindo triste romance esse. Ainda que curto ou breve ou desapegado, sim, eh um romance. Sei como vc se sente. Quando somos dotados de sensibilidade, paixão e sonhos, talvez a vida fique um pouquinho mais dolorida, mas nem por isso, menos prazerosa. Te entendo. E mto bem. Beijo grande, Izabel.

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