quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

daqui pra frente...

Depois de encontrar o caminho para o mar, ando me perdendo entre os amores dessa vida. E é aqui que lhes conto sobre essas perdições:
Saludos.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Results: Bilingual Diploma awarded.

Este blog que foi feito com o objetivo de contar-lhes como uma menina nascida e criada no Plano Piloto sobreviveria nos subúrbios da capital da Costa Rica. Foi feito para que as lembranças de dois anos surreais não se perdessem nos labirintos da memória. Foi feito para impedir que eu enlouquecesse quando entupida de sentimentos até o topo da cabeça.
Pensei inúmeras vezes no que seria apropriado escrever neste post. Mesmo depois de tanto dizer adeus pela vida ainda tenho certa dificuldade em escolher as palavras certas para estes momentos. Então o que vai aqui é só um bando pensamentos soltos, sem edição. Sentimentos que se debatem dentro de mim como ondas em dia de ressaca.
Eu sabia que me dariam uma das bolsas de estudo caso chegasse à etapa final. Não porque pense que sou um ser superior nem nada do tipo... simplesmente porque quem nasce em casa de advogados aprende a argumentar, a ter razão mesmo utilizando-se de falácias. Porque dominar as palavras sempre foi meu trunfo.
A verdade é que a menina que ganhou essa tal bolsa era nada mais que isso: uma menina. Uma menina que poderia muito bem ter continuado uma vida linear, saindo de um dos melhores colégios do Brasil para uma das melhores universidades federais para um emprego que lhe desse estrutura. E essa poderia ser uma bela vida, sem dúvida. Mas não é para mim. Nunca foi. Por alguma razão que desconheço, nasci com uma inquietação crônica que me impede de ser feliz caso não esteja escrevendo por linhas tortas. Me sinto sufocada com uma facilidade incrível. Tenho fortes ganas de fazer tudo o que se pode fazer in one life time.
Continuando a saga de uma das três meninas que foram enviadas para representar o Brasil no United World College Costa Rica entre os anos de 2009 e 2011, ela foi. Aos dezessete anos de idade, depois de viver toda uma vida de conforto de classe média brasiliense, sem nunca ter se preocupado em colocar o próprio prato de comida. E foi arrebatada por um furacão de novas informações, todas de uma só vez. Precisou expelir um mar pelos olhos até que finalmente pudesse ver a beleza do que estava para viver e apaixonou-se com tamanha intensidade que era possível prever que um outro oceano se formaria quando chegasse a hora do adeus...
Seria impossível listar as mudanças pelas quais passou neste período. O que posso dizer com certeza é que esta tal menina já não é quem costumava ser. Aprendeu a falar menos e fazer mais. Aprendeu a estar sozinha - em todos os sentidos possíveis dessa palavra. Aprendeu a se virar. Aprendeu que não se precisa de muito mais que uma mochila, um passaporte e pernas para viajar. Aprendeu que limites são linhas imaginárias que um coloca em si mesmo.
Saio do meu casulo exibindo as maiores e multicoloridas asas que você já viu. Voarei por aí de flor em flor, sem medo, sem preocupar-me em demasia pelo que não posso controlar. Sei que vez ou outra virá um vento mais forte que me vai obrigar a procurar abrigo, mas logo passa. E logo que passe me porei outra vez de pé, sempre em busca do que está além.
A quem interesse, meu futuro ainda é meio incerto, meio wishful thinking. Meus planos incluem ficar em Brasília por agora, viver e trabalhar em um Kibbutz em Israel no próximo semestre e só então entrar na universidade, obviamente algo entre Letras e Creative Writing, quem sabe Literatura.
Agradeço de coração pelos comentários, pelos e-mails. Obrigada mesmo por me acompanharem nesta jornada.
E agora, como já até virou rotina nesta minha vida, me despeço.
Adeus.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

otro lugar.

Que yo sí estoy bien. Les juro que he sonreído y he salido de fiesta y ya estoy casi lista para tener mi corazón arrancado otra vez. Pero es que a veces sale una canción u otra en el iPod que me hace pasar una buena hora escuchándola mientras veo las fotos de los años bellos que pasé allí arriba, en Centroamérica. Y en estos momentos yo sí extraño y me dan ganas de llorar y entrar en el primer avión para... para dónde? Para miles de lugares. Para Otro Lugar.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

da sobremesa que eu não farei.

No "open house" deste ano - quando os membros do staff que moram no campus cozinham e abrem suas portas para os alunos - acabei por não passar por todas as casas. No dia seguinte, encontrei o Gustavo, coordenador de CAS e atividades extra-curriculares, chegando tarde ao colégio e lhe perguntei "mas porque trabalhar até agora??" Ele me disse que não estava trabalhando, que estava voltando pra casa. Ele estranhou minha surpresa ao me dar conta de que ele havia passado a morar no campus e disse "então você não veio pegar a sobremesa ontem?" sobraram algumas, passe lá em casa e eu te darei".
A constante falta de tempo sob a qual vivia me impediu de fazê-lo e no dia seguinte, depois do almoço, alguém me toca a porta. Tavo segurava algo entre gelatina e pudim em uma taça. Agradeci muito e lhe prometi uma sobremesa brasileira em troca. Obviamente fui motivo de piada, "queridinha do staff" por algum tempo. Também tive que deixá-lo enfiar a mão no meu prato e pegar meu último plátano um par de vezes já que ainda não havia feito a tal sobremesa pra ele.
Quando fui buscar minhas malas, ele estava lá e lembro de ter reparado em como nos olhava com carinho. Fazia tempo desde que os últimos estudantes haviam saído do campus e tanto ele quanto a Leila, coordenadora da vida residencial, nos contaram das saudades que sentiam de nós. Me despedi pedindo que cuidasse bem de minha casa e ele disse que só estava começando, que ainda havia muito que fazer pelo colégio e que o faria con mucho gusto.
Mas não é essa vida uma caixinha de surpresas? E no domingo à noite eu vi a tal notícia no Facebook e me recusei a acreditar... até que tudo foi ficando mais real, saiu no jornal e tudo mais. Ainda não há detalhes, só sei que seu corpo foi encontrado já sem vida em uma rua deserta. Duas facadas no peito foram a causa de sua morte tão prematura.
Muitas coisas passa pela minha cabeça... me enoja um pouco a hipocrisia de pessoas que declaravam publicamente o quão mal pensavam dele e agora se puseram mais que deprimidas online. Me assusta pensar no frágil que é a vida, na possibilidade de cada adeus ser eterno... nas sobremesas que não deveríamos ter deixado para fazer mais tarde. Me indigna, me causa um puta nó na garganta pensar que alguém tirou a vida de alguém que era a pura definição de estar vivo.
Tem que ter justiça. Tem que ter.
Sério, tem que ter justiça.

sábado, 25 de junho de 2011

o mundo como eu vejo.

Um dia disse à Dani (Israel) que achava que estar em um UWC tinha piorado ainda mais minha ingenuidade, que seria doloroso sair da bolha e perceber que não é todo mundo que fala (e age em prol) de mudar o mundo. Lhe falei isso quando me lembrei de uma história que o Tino (Líbano) nos contou quando voltou de uns dias na praia. Ele conheceu uma menina no ponto de ônibus e o papo rolou até bastante tempo... até que o assunto das nacionalidades surgiu. Acontece que a menina era israelense e quando Tino jocosamente lhe informou sua condição de "vizinhos" ela lhe olhou com nojo, levantou e foi embora.
Fiquei pasma com essa história. Nesta conversa com a Dani, enquanto fumávamos um Marlboro numa ilha panamenha, pensei nas tantas coisas que para mim são regra mas só funcionam mesmo num universo tão idealista (e belo) como o que construímos. O que ela me contestou foi simplesmente que esse era o ponto de ir para colégio que fomos: transformar o estranho em norma e passar adiante. Sim, me entende? É acreditar tanto na mudança, acreditar tanto no entendimento entre as pessoas que tal crença contagia os outros à sua volta.
Pensei em quando estiver criando bebês meus ou sendo a tia louquinha dos filhos dos meus irmãos. Pensei nas histórias que lhes contarei. Pensei em mostrar-lhes o mundo como ele é em minha cabeça no presente momento.
Que para mim, Israel e Líbano andam de mãos dadas pelos corredores; México tem sempre um sorriso estampado, mesmo passando pelas maiores adversidades; a beleza da Espanha começa na Galícia, passa por Madrid e chega até Sevilha; Estados Unidos são o oposto de opressores e conformistas; há arte brotando em cada esquina da Colômbia; as boas vibrações do mundo tem raízes na Bélgica; mais que um terremoto, o que balança o Haiti são as cadeiras de seu povo; os homens e as mulheres são absolutamente belos na Venezuela; há mais latinidade na Nigéria ou na África do Sul que no Brasil; toda a doçura do mundo pode ser encontrada nos abraços da Guatemala; vale muito a pena transpôr os altos muros que o Caribe cria para impedir a entrada do resto do mundo; vale mais ainda conhecer a leveza da literatura da Noruega; Chile te conquista tanto por fazer barulho quanto por ser tão calado; a Costa Rica ainda tem muito a aprender com seus vizinhos; não há nada que clique melhor que a extroversão brasileira e a introversão da Malásia... que para mim, a paz mundial começa por lavar a própria louça.
Assim eu vejo o mundo agora: não por países, fronteiras ou vistos, mas por rostos, abraços e memórias.

domingo, 19 de junho de 2011

acho que "goodbye" é uma palavra muito mal escrita.

Eu decidi não falar sobre os adeuses que eu disse às pessoas.
É que é doloroso e desnecessário descrever as idas dos ônibus ou minha estada no aeroporto.
O que lhes digo assim, bem por cima, é que por três vezes pensei que não conseguiria parar de chorar nunca mais. E que tive sorte de ter um menino nigeriano hermoso por perto para me carregar em duas delas. E uma colombiana maravillosa na terceira.
Posso dizer também que até o presente momento ainda sinto um aperto insuportável só de pensar nestes dias, então ya!
Perdão, mas não consigo falar dos adeuses.

os lugares e eu.

As fotos não estavam mais preenchendo cada uma das paredes do quarto que foi meu por um ano. Do quarto cujas paredes serviram vez de abrigo vez de cela. Do quarto que refletia o caos e a beleza do universo que tenho em mim.
Olhei em volta e o que vi foram os restos do que um dia pude chamar de meu.
Alguns dias depois, com as residências já trancadas, andei completamente só pelo colégio. Cada passo dado me levava a algum lugar que continha um pouco de mim, de minha história. Caminhei pelos últimos dois anos da minha vida em alguns minutos.
Ainda nesta noite, fui ao Bar Amigos e tomei minha última Imperial. Escrevi meu nome em marcador negro em uma das paredes. Caminhei por entre as mesas de sinuca e na pista de dança improvisada.
Enquanto o táxi me levava desde o colégio até San José, olhei a cidade que foi minha pela última vez. Vi Santa Ana embaçada pelas lágrimas que teimavam em cair. Passei pelas ruas nas quais costumava caminhar em dias de sol ardente ou chuva inesperada. Sorri ao pensar que por mais que não conheça cada canto do tal vilarejo, conheci até o cerne alguns lugares e que estes sim se transformaram em meu lar.
Pensei nos fantasmas que devem andar por estes lugares. Fantasmas de outras vidas que aconteceram ali, dos momentos que tornaram pessoas o que elas são hoje. Pensei que não passamos de efemeridade. Não passamos de entretenimento barato para as paredes, portas, janelas que nos cercam. Elas sim duram. Nós? Nós vamos e voltamos e não paramos quietos.
Sei que voltarei em algum momento da minha vida. Mas sei também que já não será o mesmo...
É que até o estático se transforma e vira uma versão do que foi um dia.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

que yo tengo gente hermosa en mi vida...

E quando eu estava mal, bem mal, escrevi para três pessoas. Das respostas, a que me causou (e causa cada vez que releio) um sorriso no rosto foi a de alguém que um dia me disse que lhe encantava escutar minhas histórias mirabolantes enquanto compartilhávamos uma das redes do lado de fora de El Coco. Dizia assim:
(...) Pero muy adentro de mi sé que todo va a estar bien y que esto que sentimos no es más que la consecuencia de dos cosas: 1. que estamos vivos. muy vivos. y 2.que nos queremos de verdad (...) Por ahora, prométeme que vas a dar todo de ti para estar bien,ok? si eso quiere decir salir con tus amigas, o bailar en tu casa, o dormir, o leer, o escribir,o escuchar dirty songs,no importa. Lo importante es que hagas cosas que te hagan sentir feliz (...)
E eu juro que estou tentando, mi cosita hermosa. Te lo juro.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Uma pausa da recapitulação dos meus últimos dias na América Central para dizer que está difícil controlar. Está difícil estar aqui quando sou a única dos meus amigos que não tá na UnB ou que tem um mínimo de estrutura e/ou segurança em seu futuro próximo. Está difícil sentir que sou a única que entra no Facebook pelo menos 3 vezes ao dia porque assim me sinto mais próxima de quem está longe. Está difícil escutar a metade do meu iPod que se constitui de bandas das quais nunca haveria ouvido falar se não fosse pela presença de certas pessoas na minha vida.
Está difícil e eu não sei o que fazer com essa dor.

y así fue la graduación:

Sobre a formatura, o que eu posso dizer?
Que Lucy (US) é o ser humano mais belo do mundo e a surpresa dos primeiros anos foi linda. Que será uma lástima não ouvir Jean (Uganda) e Sury (US) cantarem juntas nos shows do colégio acompanhadas de Janne (Finlândia), Jorge (Costa Rica) e Emai (Chile). Que Tino (Líbano) nos fez sorrir e Maria Alejandra (Colômbia) nos fez chorar copiosamente durante seus discursos. Que a Ivannia estava bela e eu me senti muito feliz em ter minha professora de Espanhol zombando a crise de choro que eu tive no meu exame oral na formatura. Que me encanta ver o que o clowning master tem a dizer, e que mesmo a contragosto do resto da comissão de formatura, votei sim no Steven. Que foi emocionante segurar meu diploma, mas foi mais ainda ver cada amigo subir no palco pelo deles, escutar cada país que era chamado pelo Dave e pela Paula, pensar em todos os países onde sinto que terei uma casa... aliás, mais que isso, um lar.
Foi um dos momentos mais belos que já experimentei nestes meus quase vinte anos de vida. O término do ensino médio me deu uma sensação de alívio tão forte! Já passava da hora de sair deste ambiente e me fez feliz que tenha sido assim, de maneira tão intensa. E bela.
Pensei no rápido e no devagar que passaram estes dois anos, academicamente falando agora. Como me encantei pela língua espanhola logo de cara e a paixão só aumentava a medida que Ivannia nos ajudava a construir-nos como hispanohablantes e como mulheres. Como fui vagarosamente deixando de gostar de Antropologia. No quão divertido foi trabalhar na monografia, mesmo que tenha sido feita tão em cima da hora. No quanto odiei a IA de Matemática com todas as minhas forças. Pensei no dia em que percebi que passar a noite em claro havia virado rotina e havia algo errado com meus horários de estudo. Agradeci ao universo por ter me mandando a Dani, a Dido e a Suuu, que me incitavam a estudar e me ajudaram até a fazer minha World Lit - mesmo que Dani tenha feito em hebraico, Dido em espanhol e Suuu em norueguês. Maldisse o inventor de ToK até sua décima geração - até que me dei conta de que o problema não era a matéria e sim minha incompatibilidade com o professor. Sorri ao pensar em como eu achava que meu inglês era fluente antes de chegar e a Rebekah me destruiu na primeira redação. Sorri ainda mais pensando no acaso, destino ou qualquer coisa que trouxe a Lindsay para amenizar a intensidade excessiva das aulas daquela mulher e de seu marido, Jamie.
Sorri. Sorri pelas minhas conquistas. Por ter começado com um 24 e terminado com..? Não sei com quanto ainda, mas espero que o bastante para passar, hahaha. Sorri por todas as coisas que não teria aprendido no CMB e me senti muito alegre pela escolha que fiz.
E foi bem nessa hora que o Dave chamou meu nome e fui pegar meu diploma das mãos do Mauricio Viales, diretor do colégio...
Parte 1. (Os discursos chatos de gente que não tem importância em nossa vida, a surpresa dos primeiros anos, os discursos lindos do Steven, da Ivannia, do Tino e da Maria Alejandra, "Little Wonders" na voz da Jean e da Sury e a primeira parte dos alunos recebendo seus diplomas.)
Parte 2. (Os últimos diplomas sendo recebidos, os abraços e as crises de choro, os recados que a galera deu às famílias.)

Little Wonders

Let it go
Let it roll right off your shoulder
Don't you know the hardest part is over?
Let it in, let your clarity define you
In the end we will only just remember how it feels
Let it slide
Let your troubles fall behind you
Let it shine until you feel it all around you
And I don't mind if it's me you need to turn to
We'll get by, it's the heart that really matters in the end
Our lives are made in these small hours
These little wonders, these twists & turns of fate
Time falls away, but these small hours

These small hours still remain

All of my regret will wash away somehow
But I can not forget the way I feel right now
In these small hours
These little wonders
These twists & turns of fate
These twists & turns of fate
Time falls away but these small hours
These small hours still remain
Still remain
These little wonders
These twists & turns of fate
Time falls away
But these small hours
These little wonders still remain.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

this time is ours.

Na realidade não foi um só o milagre que ocorreu no dia 23 de maio de 2010...
Os infelizes estudantes de Sistemas Ambientais e Sociedades (incluindo minha pessoa) tiveram a "sorte" de ter sua prova no último dia, quando já havia se tornado quase impossível concentrar-se em qualquer coisa que não fosse dizer adeus. Mas que se há de fazer?
Entramos, guerreiros, alguns de mãos dadas para encarar essa pseudo-ciência maldita. Se você me perguntar qual meu maior arrependimento nesta experiência, responderia sem titubear: não estar em Física, onde certamente teria aprendido algo. Coulda, woulda, shoulda... Então foi isso; o primeiro milagre foi sobreviver ao monstrinho que me atormentou pelos dois anos.
Milagre número dois começou ainda na biblioteca. Carey tirou a última prova das mãos do último aluno, checou mais uma vez se estava tudo certinho e nos liberou: "Okay... one, two, three, go!". Imagine quase metade dos segundos anos gritando, saindo correndo, esbarrando em cadeiras ou qualquer coisa que estivesse pela frente no hall da biblioteca. Corremos porta a fora para sermos surpreendidos por nossos primeiros e co-anos que já haviam terminado munidos de balões d'água. Dani (Israel), Maria Alejandra (Colômbia) e Klever (Bolívia) haviam conseguido um pedaço enorme de plástico e estenderam no gramado com sabão em pó e ligaram uma mangueira. Depois de passar duas horas escrevendo sobre o impacto humano no meio ambiente, gastamos litros e mais litros de água escorregando das maneiras mais diversas possíveis numa lona preta. Foi um momento de magia inefável no qual me peguei muitas vezes apenas olhando meus companheiros, porque é exatamente assim que quero me lembrar de todos: com o maior dos sorrisos cobrindo o rosto de bochecha a bochecha.
Deste momento em diante, a vida foi doce. Claro que sempre há um amargo ou outro para fazer os momentos belos mais belos, mas em sua maioria foram sim momentos de extrema felicidade. Jantar da residência no Tin Jo, restaurante delicioso da professora de Mindfulness, Passdown Show e aquilo que não deve ser escrito em um espaço tão público.
Destes dias o que lembro é que as noites eram sempre curtíssimas e cada conversa tinha um sabor misto de "eu te amo por tudo o que vivemos juntos" e "adeus". Um sabor que provavelmente sentirei muitas vezes durante minha vida.
Me lembro também de decidir passar mais tempo fora do quarto, sempre caminhando por lugares que me haviam servido de cenário para tantos eventos. Quis passar o maior tempo possível memorizando cada cantinho da minha casa, cada rachadura, cada grade enferrujada... as diferentes cores das flores que iluminavam nossas vidas quando havia aula às sete da matina.
E foi depois de uma noite de muita conversa e pouco sono em Tortuguero que eu me pus um vestido longo e calcei sandálias venezuelanas emprestadas pela Ximena hermosa e finalmente me formei.

terça-feira, 14 de junho de 2011

sobre uma semana de intensidade peculiar.

Estive constantemente entre a necessidade de estudar para as provas finais e a vontade de aproveitar meus últimos dias em casa. E se em um minuto estava estudando a antropologia simbólica de Clifford Geertz, no outro estava colocando meus pulmões para fora em dolorosos soluços na cozinha de El Coco.
Me lembro exatamente do momento em que se fez necessário colocar um sinal de "Perigo: erupção de lágrimas a qualquer momento!" em algum lugar bastante visível. Foi depois de uma visita do JuanPa (México) ao meu quarto depois de muito tempo.
Fazia meses, talvez três, que não tínhamos de nossas longas conversas, e eu lhe extrañaba montones. Até que nessa terça ou quarta ou qualquer que tenha sido o dia - datas se encontram desfocadas em minha memória agora - ele veio ao meu encontro. Passamos um par de horas catching up, trocando figurinhas e compartilhando dúvidas, porque assim como eu, JuanPa não está na vibe de ir para a universidade neste momento da vida.
Não foram derramadas lágrimas, mas houve momentos em que nossas vozes falhavam, tropeçando em soluços que ainda não estavam prontos para serem liberados. Quando ele saiu do meu quarto, tive certeza de que aquele havia sido nosso adeus. Não o adeus que se dá ao pé do ônibus, com pressa, com choro. O adeus que se dá ao que aquela pessoa foi para ti. E quando vi o JuanPa parar na porta para fazer uma dessas palhaçadinhas que ele sempre fazia, pensei que já não teríamos mais tempo um para o outro, dessas conversas sem hora marcada.
Nisso me veio uma onda, não, um Tsunami de tristeza. Começou na boca do estômago e foi se espalhando, coração, mãos e logo já não tinha mais cura: tristeza generalizada me pôs a cabeça no travesseiro e jorros torrenciais de arrependimento me saíram pelos olhos. Por não ter ido mais vezes aos quartos #5 e #6 de Montezuma, #1 de Hermosa, por ter demorado tanto para dizer-lhe que... por, por mil coisas que já não quero visitar nesse momento, ya!
Deste dia em diante, uma palavra que fosse bastava para começar uma tempestade dos meus olhos. Adicione a isso "problemas conjugais" e um par de amizades que se dissolviam e minha dose diária de drama estava até extrapolando um pouquinho.
Assim foram meus últimos dias de estudante do United World College Costa Rica. Até que num tal dia 23 de maio de 2011, um milagre aconteceu...

4/muitos...

... de dançar salsa com gingado africano com o Ejiro (Nigéria), de falar do imaterial, de política e de nós com o Juan Pablo (Colômbia), de contemplar a beleza da Åsa (Noruega) quando ela passa com suas roupas tão típicas...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

vuelvo al sur.

Depois de algumas semanas intensas, uma formatura e uma viagem ao Panamá, lhes escrevo do quarto do meu irmão em Brasília, DF. Vou comer carne decente, daqui a pouco tomo açaí e mais tarde o Marcelo Camelo vai me dar as boas vindas à capital federal.
Aí sim eu volto e lhes conto como foi o fim. Já sem lágrimas, já em paz. Com certeza de que o que quer que tenha vivido nestes dois anos foi exatamente o que precisava viver.

domingo, 22 de maio de 2011

3/muitos.

... de admirar a beleza da poesia, da música e do corpo feminino com a Lucy (US), das caminhadas noturnas com o Guillermo (Venezuela), dos momentos Meredith Grey-Cristina Yang com a Dani (Israel)...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

7 dias para a formatura.

E eu não estou nada bem.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

insônia.

Nos revirávamos na cama, eu e ele sem poder dormir. Nos olhávamos e olhávamos para o teto. Não havia barulho nem luz nem nada que fosse obviamente incômodo a ponto de não nos deixar dormir. Desistimos às 3am: "y'alla, vamos a comer". Ele cozinhou uma sopa daquelas que viraram arte no MoMa por causa do Andy Warholl e comemos na sala da residência.
Eram quase 4am quando ele me deu um beijo de boa noite e enfiou-se entre minhas cobertas. Eu continuei na sala, lendo Érico Veríssimo e pensando na besteira que é me apaixonar nesse momento do ano... quando me dei conta, já estava clareando o céu, me dizendo que seria um bummer fazer um exame final resfriada e sem dormir.
Mas, que se há de fazer? Foi assim mesmo que fiz meu Papel 2 de Português: doente, atrasada, dopada de guaraná e cafeína. E sinto que me ferrei de leve. Porém, não vou me preocupar por algo que já não posso mudar. Porque é assim que tento viver minha vida...
Depois de tomar este delicioso chá de limão com menta que me acaba de fazer a Dani (Israel) vou dormir para deixar meu corpo se recuperar desse safanão na minha saúde que foi essa noite insone. Mais tarde a Maria Alejandra (Colombia) vem me buscar para que almocemos e passarei a tarde lendo espanhol na rede. Adoro o fato de que metade das minhas matérias sejam línguas e me possibilitem tanta leitura. Life had never been sweeter - até certo ponto.
PS.: se quiserem se apaixonar por uma música, aqui vai meu novo vício: Hezekiah Jones - Borrowed Heart. Vale muito a pena fazer o download :)

sábado, 14 de maio de 2011

sobre a noite que Amigos voltou a ser a residência 2.9

Outro efeito da sexta-feira 13 em nossas vidas foi a inesperada volta do clima que tinha no Amigos todos os fins de semana do ano passado. Um sólido terço do colégio estava lá, e o "coordenador da Residência", JuanPa (México) se assegurou de que teríamos reggaeton tocando a noite toda.
Foi lindo de se ver e de se viver...
Quando lhes falo de Amigos certamente a imagem que lhes vem à cabeça é de um bar qualquer. Lhes digo que é menos, haha... é um bar bem pé-de-chinelo que tornou-se o que é graças às constantes visitas de UWCers. E não imaginem que o lance é ir e encher a cara, não mesmo.
Amigos para nós é dançar reggaeton com um nigeriano e um guatemalteco, conhecer o Sérgio e a Laura (os bartenders), dar um abraço no tío na entrada, conhecer umas pessoas que parecem não ter vida além do bar e estão sempre por lá, ser chamada de Cinderela por ter hora de voltar...
Porém, por razões desconhecidas, tal instituição perdeu essa graça e beleza por um tempo. Virou um bar ordinário. Perdeu a nós também.
Felizmente, mesmo que tão perto do fim, voltou a ser casa. Minha comemoração foi tomando uma tequila - a bebida que aprendi a tomar na Costa Rica - com Gaby (Ilhas Cayman) e Andrea (Colombia). Brindamos ao fato de vivermos juntas por dois anos e nunca termos compartilhado um shot. Antes tarde do que nunca, certo?
E se Sarah (Bélgica) e Salva (Venezuela) pudessem ver como andaram as coisas por aqui neste fim de semana, estariam orgulhosos ao ver o legado que deixaram.

Último Romance.

Eu encontrei quando não quis

Mais procurar o meu amor

E quanto levou foi pr'eu merecer

Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal

Na fila do pão, sabe que eu te encontrei

E ninguém dirá que é tarde demais

Que é tão diferente assim

Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Ah vai!

Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém

Afim de te acompanhar

E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei e quis duvidar

Tanto clichê deve não ser

Você me falou pr'eu não me preocupar

Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver eu penso em trocar

A minha TV num jeito de te levar

A qualquer lugar que você queira

E ir onde o vento for

Que pra nós dois

Sair de casa já é se aventurar

Ah vai, me diz o que é o sossego

Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar

E se o tempo for te levar

Eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O terremoto da sexta-feira 13.

Estávamos no meu quarto eu e Maria Alejandra (Colombia) assistindo Annie Hall, uma obra prima de Woody Allen. Nos perdíamos nas ruas belas da Nova Iorque de 1977 e nas teias sentimentais de Alvy Singer. E assim, quando nos encontrávamos umas milhas longe da Costa Rica foi que a natureza nos despertou.
Começou de leve, as janelas balançando. Isso acontece vez ou outra, sem grilo. Mas continuou e ficou mais forte. As garrafas na prateleira em cima da minha cama se debatiam uma na outra. O relógio da sala caiu no chão e partiu-se em destroços de tempo. O barulho emitido pela violência das janelas tremendo era como um brado de guerra, um "Avante Camaradas" nos gritando para sair de casa.
Ainda tive tempo de pensar em colocar o espelho na cama da Lucy (US) para evitar estragos maiores. Saímos correndo pro quadrado no meio das residências, onde já muita gente se encontrava. Uns meio desnudados, outros com cara de sono e ainda sem entender o que tinha acabado de acontecer.
Foi assim o terremoto de 6.0 que nos acometeu nesta sexta-feira que, por acaso ou não, é 13.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Prova #1 de Português Autodidata Nível Médio.

Ah, e essa prova me fez amar muito, mas muito, o fato de ser lusófona desde o berço, sendo capaz de entender as minúcias que só o português tem. Que língua mais bela e rica! E o poema que eu analisei compartilhava comigo desta admiração. É do xará do meu irmão, Adriano Espínola. Deleitem-se com esta belíssima obra de arte:
LÍNGUA-MAR
A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar, viajando em todos nós
no teu sal, singra errante a minha voz.

terça-feira, 10 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

mês.

Passa um avião, soando como se estivesse aqui ao lado... baixinho, baixinho...
Me lembrou que em um mês certinho estarei escrevendo-lhes desde o aconchego do que foi meu ninho por 17 anos, no meio do Planalto Central.
Um só, um mês.

o novo.

O livrinho vermelho que costumava levar comigo para todos os lados se acabou neste sábado. O supracitado diário esteve comigo desde meu aniversário de 19 anos, no dia 5 de dezembro de 2010, quando subi uma montanha para meditar. Desde então, ele esteve em 6 países diferentes, mas nunca no que nasci.
Nasceu e viveu na Costa Rica, mas viajou por quase toda a América Central. Viu os templos Mayas na Guatemala, os contrastes gritantes de El Salvador, os rios secos nas estradas de Honduras e as maravilhas escondidas da Nicarágua. Passou o fim de semana mais frio de sua (e de minha) vida nos Estados Unidos.
Se pudesse falar, contaria histórias das mais diversas. De perder-se em ruas desconhecidas, de desencontros e reencontros, de um par de crushes, de passar horas em ônibus dos mais diversos, de estações de trem. Falaria de poesia, minha e de outros, e de música. De saudade, de engolir um sapo ou dois, de querer ir embora e decidir ficar. Se pudesse falar, não faria sentido. Seus pensamentos se confundiriam a cada três dias, duas semanas, imagina então um mês!
Este diário viveu muito mais nestes cinco meses do que muita gente já viveu em uma vida. E agora ele dá passagem a um caderno azul com corações rosas colados nas extremidades, presente de minha soul sister israelita. E este vai experienciar os últimos dias, a dor de partir, a viagem com as amigas, a chegada no Brasil e... well... deixemos o futuro para o futuro, certo?

quinta-feira, 5 de maio de 2011

2/muitos

...dos elogios do Jorge (Costa Rica) quando eu uso estampa floral, das visitas inesperadas da Roanna (Holanda) no meio da noite, de ser chamada de falsa (no sentido UWCCR da palavra) pelo Flávio sempre que estou conversando com algum guri, de compartilhar poesia e música com a Maria Alejandra (Colombia)...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vagarosamente me dou conta que sentirei falta... (1/muitos)

...da risada da Becca (US), da mania do Emai (Chile) de batucar em tudo - até em si mesmo e em mim, dos barulhinhos tão típicos da Dido (Galícia)...

terça-feira, 3 de maio de 2011

whatever will be, will be.

Começou para mim hoje: Final IB Exams.
Estranhamente não estou nada nervosa, nem preocupada, nem fiquei doente. Estou num estado de apatia que me é extremamente anormal. Melhor que frekear totalmente na reta final e screw it.
Me desejem sorte, mandem boas energias.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

o senhor da guerra não gosta de crianças.

Na noite de domingo, ao voltar de uma caminhada around the square com a minha linda primeiro aninho Beatriz, cheguei à sala de estudos para escutar da boca da Susanne (Noruega):
"Já escutou a novidade? Osama Bin Laden morreu."
"Como assim? Quem matou?"
"Quem você pensa? Os EUA. Veja o vídeo do Obama anunciando."
E eu, com lágrimas nos olhos, escutei um ganhador de um Prêmio Nobel da Paz falar que seu país foi responsável por uma operação que levou à morte de Osama Bin Laden. O que faz aceitável que um presidente, principalmente de nação tão poderosa, admita que cometeu um CRIME?Assassinato é crime, não importa a situação.
Antes de deixar o tal vídeo carregar, perguntei à Su, "Você acha que eu vou deixar de admirar o Obama?", preocupando-me genuinamente porque gosto da maneira como age o atual presidente estadounidense. Porém este acontecimento serviu para me lembrar o porquê do pé atrás que a maioria de nós, sulamericanos, tem com esta nação. Porque até aquele que simbolizava a mudança necessária é obrigado a converter-se num Senhor da Guerra.
Aprendi em ToK a olhar a história por dois lados sempre. Tudo bem, eu tento. Porém não posso negar que me revirou um pouco o estômago ouvir minha companheira de quarto californiana falando que o sentimento dela, e o sentimento geral do país, é de "satisfação".
Deixo de lado o fato de que desde o começo toda esta história me parece uma puta farsa. Deixo de lado o fato de que estas guerras têm como combustível (literal e metaforicamente) petróleo, dinheiro, poder. Deixo de lado qualquer pré-conceito que tenha com relação aos Estados Unidos... Me coloco no lugar da menina que cresceu sem o pai que foi pra guerra, da família que se refez quando a mãe morreu no atentado, dos que perderam a vida sem porque.
Ainda assim, não vejo sentido nesta política de atacar por vingança. Esta história não vai acabar assim e eu temo. Temo pelas vidas que se vão perder numa guerra sem sentido - como se alguma guerra tivesse a mínima razão de existir... Temo pelos meus amigos que vão viver nos EUA em alguns meses, pelos meus amigos americanos que estão voltando para um país que seguramente sofrerá retaliação, já que o que governa os seres humanos é o lema "bateu, levou". Temo por este mundo que tenta quase diariamente me provar que já não há remédio.

domingo, 1 de maio de 2011

é o fim?

Ontem à noite, quando eu, Susanne (Noruega), Diana (Galícia) e Danielle (Israelle) programávamos nosso destino depois da formatura, me veio uma dúvida: o que fazer com este blog depois do fim de meus dois anos no UWC?
Comecei este diário virtual com o intuito de compartilhar minhas experiências numa nova fase da minha vida. A definição de nova fase, nesse momento, era "viver fora do Brasil". No entanto, devido a um crescimento exponencial (maldita matemática) do meu amor por descobrir o mundo, essa fase se fará permanente... ou quase isso.
Bom, ainda não é hora de falar do futuro a longo prazo. O que estou me perguntando neste momento é: agora que se acabam meus anos na Costa Rica e eu voltarei para casa por alguns meses, deveria continuar usando este endereço como muro de lamentações?
Deveria começar outro para contar da vida post-most-mindblowing-experience-ever? Deveria mudar a língua de português a inglês para que meus amigos de outros continentes possam saber o que está rolando comigo em terras tupiniquins - privando assim muitos conterrâneos, especialmente minha família?
Aceito conselhos. Sobre isso e sobre tudo. Sobre o que um deveria fazer quando a ideia de não escutar os barulhinhos tão típicos de Diana causam uma nostalgia dos diabos. Sobre o que fazer quando a ideia de a Dani ingressar no exército pelos próximos dois anos parece um desperdício descomunal de inteligência e coração. Sobre como arranjar grana suficiente para visitar Susanne num dos países mais caros do mundo.
Sobre como fazer para parar o tempo no anfiteatro tarde da noite, quando nossos lábios estão a apenas um silêncio de começar algo com prazo de validade iminente.
Maldito tempo. Maldita falta dele.
E hoje, quando acordei, pensei: "esse é o mês da minha formatura".

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O dia que eu apertei a mão de um imortal.

Devo admitir que não conhecia sua poesia com muita profundidade antes do começo desta semana. O que aconteceu foi que meu tutor nos enviou um e-mail sobre um tal festival de poesia internacional que teria como autor convidado um tal brasileiro e eu, nacionalista e meio-escritora que sou, não poderia perder.
Para não estar completamente perdida no tal evento, busquei um par de poemas, logo mais outro e outro e quando me peguei, já tinha perdido mais de hora de suposto estudo em poesia! Em poesia do homem que atualmente ocupa a cadeira número 10 na Academia Brasileira de Letras, Ledo Ivo.
E nesta última sexta-feira de abril de 2011 me pus sapatos azuis e fui ao X Festival Internacional de Poesía de Costa Rica. Obviamente foi uma das melhores experiências out of campus que tive.
Já deve ser bem claro para quem lê o blog com certa frequencia, mas para os navegantes de primeira viagem, aqui vai uma certa informação sobre quem lhes escreve: meu sonho é viver de escrever. Imagine então a emoção de ver alguém cuja obra é tão aclamada que lhe deu uma cadeira na ABL!
Tremia de cima a baixo ao caminhar em sua direção, passos lentos, interrompidos por outra gente que lhe queria cumprimentar. Até que cheguei perto, e mais perto e aí o que eu pude dizer foi, "oi, tudo bem?". Um sorriso se abriu de leve no rosto deste senhor cujas feições são tão delicadas que um se sente imediatamente seu neto no primeiro contato.
Lhe contei que era brasileira e morava na Costa Rica. Lhe contei que meu sonho era ter uma cadeira na ABL. Ele me disse que eu deveria escrever muito e muito e ter uma obra respeitável. Me desejou sorte na empreitada. Disse que quer estar vivo para me ver como companheira na Academia.
O senhor Ledo Ivo não vai se lembrar da menina mais que eufórica de cabelos desarrumados, eu sei. Mas não importa, porque eu nunca me esquecerei do dia que, milhares de quilômetros distante da terrinha, apertei a mão de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

olhemos para os lados e para dentro, sim?

Ontem fui ao cinema com Diana (Galícia) para vermos um filme que nos indicaram os primeiros aninhos venezuelanos, Guillermo e Ximena. Primeiro, devo dizer que me sinto bem orgulhosa de ter entendido uma filme falado em venezuelano - idioma derivado do espanhol que custa MUITO até que um possa entender. Em segundo lugar, quero salientar que por mais que seja cheio de clichês hollywoodianos/de filmes de favela brasileiro, o filme dá uma ideia bem precisa do que é a violência em Caracas.
O que me causou, o tal filme, foi querer voltar para casa. Muito do que vi naquela tela do cinema no Multiplaza Escazú ao lado de um par de gringos é exatamente o mesmo que há no Brasil. Saúde pública precária, violência transformada em entretenimento...
Por mais que pensar em passar a vida de um lado a outro do mundo pareça incrível, me parece melhor ainda sonhar em trabalhar para o meu país. Para tentar amenizar as diferenças tão gritantes que fazem com que a sociedade que vivemos se assemelhe a uma sociedade de castas.
Os pontos principais deste post são:
1. Demos mais apoio aos nossos vizinhos e irmãos não apenas venezuelanos, mas também colombianos, peruanos, até argentinos. Porque não escutar rock chileno ou hip hop equatoriano? Há tanto a ser descoberto em nossas fronteiras... E se posso dar um conselho, comece pelo cinema, assistindo La Hora Cero.
2. Estou mais do que certa que é no Brasil que quero fazer minha vida.

domingo, 24 de abril de 2011

"Lagosta", por June Robertson Beisch.

À primeira vista, me senti repelida
pela ideia de comer algo que se via
tão exótico e sinistro,
tendo lido as linhas de Jean Paul Sartre
sobre crustáceos terem dúbia
consciência. Mas eu estava em Nova Iorque, e
o rapaz que havia conhecido por lá dobrou
meu guardanapo embaixo do meu queixo e
me passou um quebra-nozes para a concha.
Eu era de Minnesota, criada em
trutas de lago e ribeiro. Eu também era
crua e sem forma, como as criaturas
que tomam a forma do seu ambiente.
Minha primeira mordida foi deliciosa, mas a
terceira foi ainda melhor e neste
momento eu já era uma verdadeira garota de Nova Iorque
que usa vestidos justos pretos e cílios falsos,
capaz de lidar com qualquer
crustáceo, com dúbia consciência ou não.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

¡estoy harta!

Olha, eu sempre soube que sair de casa não era uma tarefa muito fácil. Ainda mais com a vida boa que eu sempre tive a sorte de ter: carona para todo lado, roupa lavada, comida no prato... Mesmo assim, fiz minhas malas e fui, certo? Certo.
Veja bem, não sou de reclamar. Tudo bem que metade de minhas entradas neste blog sejam frequentemente meio desesperadas, mas é só porque eu sou uma Chica Almodóvar de corpo e alma e me alimento de drama. Porém, de verdade, eu não sou muito fã de ver o lado negativo das coisas... na verdade, sempre sou a que é meio inocente e Pollyanna. No entanto, algo começou a me aborrecer de forma tremenda ultimamente: cafeteria food.
Já não posso sentir o cheiro da cantina do colégio... me revira o estômago. Foram quase dois anos aguentando sem reclamar do excesso de sal no peixe, da falta dele no purê, do sabor forte demais do pesto, do aguado que é o molho de tomate... mas já, deu. Depois de passar fome e alimentar-me de Mac & Cheese - uma invenção estadounidense asquerosa - noite passada, decidi que é hora de aprender a cozinhar para sobreviver.
Por isso gastei quase 50 dólares somente em comida no Más por Menos e de hoje em diante, pelo menos até que comecem as provas finais, vou botar a mão na massa. Literalmente.
E hoje... ai céus... hoje mais que nunca senti falta de Cosminha na minha vida.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

que não anda muito Santa esta Semana...

Uma semana de feriado e não, não fui à praia - culpa das minhas amigas responsáveis; por mim estaria no ônibus das duas da tarde na sexta-feira com destino à Malpaís, aka Paraíso.
E minha Semana Santa tem sido acordar (relativamente) cedo, Yoga, estudar levemente, almoçar, estudar mais hardcore, jantar, ver filme, Happy Hour! e dormir com a Dani (Israel). Uma pausa de vez em quando para ver How I Met Your Mother, porque ninguém é de ferro.
Sabe, já estava na hora de tomar jeito na vida e sentar meu bumbum na Sala de Estudos e trabalhar um pouquinho... aliás, é exatamente o que farei agora!
PS.: Papis e mamis, muito obrigada pela 51. Vários países tiveram seu primeiro contato com uma caipirinha verdadeiramente brasileira. Isso sim é multiculturalismo, ahhaha.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

todo novo começo vem do fim de algum outro começo.

A comemoração que eu sempre pensei que teria ao terminar meu ensino médio era uma colação de grau emocionante vestida de túnica branca, um culto ecumênico tedioso e uma formatura com traje de gala no Clube do Exército.
Bom, mas não foi bem assim que aconteceu. Vir para a Costa Rica mudou drasticamente minha vida em vários aspectos... inclusive este detalhe tão pequeno e grande ao mesmo tempo.
O que acontece é: acabaram minhas aulas. Porém, ainda me falta mais de um mês para que eu possa dizer adeus ao IB. Teremos duas semanas até o começo das provas finais, três semanas de provas e finalmente, formatura.
Bom, como estou no berço do multiculturalismo, obviamente adotamos muitos costumes alheios, e não foi diferente no último dia de aula. Seguindo a tradição holandesa de disfarçar-se de algo, o tema de nossa geração foi Super Heróis! E aí fomos, de roupa de baixo sobre calças leggins coloridas e capas amarradas no pescoço...
Pois é, assim terminou meu longo ensino médio. Depois de 1 ano e meio no CM e dois anos no UWCCR, finalmente posso dormir sabendo que já não há mais aulas que não me apetecem na manhã seguinte. Nunca mais na vida me vai entediar uma aula de qualquer que seja a ciência, nunca mais vou estudar algo que não seja relacionado a algo que me causa paixão. Nunca mais.
Sim, sim. Aos dezenove anos - antes tarde do que nunca - termino mais uma etapa da minha vida. Vestida de super heroína por tantas batalhas que tive que vencer, rodeada da maioria das minha pessoas preferidas - Diálogos de la Vagina y Etoros - e muito realizada. Estando plenamente consciente de que já está mais do que na hora de seguir em frente.

terça-feira, 12 de abril de 2011

I think I'll go to Boston, I think I'll start a new life.

Foi meio do nada que isso aconteceu, mas uma universidade em Boston me aceitou e se ofereceu pra pagar minha ida até lá para conhecer o campus. Assim como conto, de sopetão, foi que tal notícia me apanhou. E eu, fiel seguidora do grande Acaso, peguei um avião na madrugada de sexta-feira e me fui pra terra do Tio Sam.
Foram dois dias apenas; dois dias de me perder pela cidade, de conhecer Simmons College e outras universidades da Fenway, de pensar em detalhes aos quais não me havia atentado antes...
1. Dois anos vivendo na bolha me fizeram um pouco cabreira de estar num ambiente onde não conheço ninguém... ao mesmo tempo que estar fora de uma zona de conforto me ensinou a socializar nas situações mais adversas;
2. Não havia me dado conta que estudar nos Estados Unidos quer dizer estudar nos Estados Unidos. Para quem não entende o que eu quero dizer, aqui vai: os casacos gritando o nome da tua universidade, o sotaque tão típico, o refeitório;
3. UWC é algo único na vida de alguém. Não dá pra esperar encontrar este ambiente lindo cheio de multiculturalismo em outro lugar. Nenhum outro lugar;
4. Talvez aplicar pra East Coast não tenha sido das decisões mais bem tomadas da vida. Inverno por 6 meses depois de 17 anos no Brasil, 2 na Costa Rica? Haja jogo de cintura...
5. As pessoas começam universidade bem mais cedo do que eu planejo começar. Dividirei salas de aula com meninas até 3 anos mais novas que eu. Bummer.
Estes foram apenas alguns dos pontos sobre o qual refleti enquanto o vento gélido me dificultava o andar pela Newbury Street e o pingo de sol que fugia das nuvens espessas que fazem desta uma cidade cinza me queimava as bochechas. Há muito mais a levar em consideração neste momento tão... tão(!) na vida alguém.
E eu? Eu não sei bem o que quero, onde quero estudar. Sei que não tô nessa vibe neste momento. Sei também que é difícil entender o conceito do que falo neste momento vivendo na cultura brasileira onde a vida se planeja de maneira a passar um concurso público o mais cedo possível e ter estabilidade por toda a vida.
Mas isso não é pra mim. Não agora. O que eu preciso é digerir estes dois anos. Me conectar de volta à minha cidade, à minha família, aos amigos que deixei dois anos atrás. Preciso comer açaí e andar de Zebrinha na w3. Preciso colocar a cabeça no lugar, pelo menos por meio ano. E depois? Bom... já há planos pensados sim, mas isto eu deixo para falar sobre num futuro próximo...
All in all, Boston é uma versão limpa e universitária de New York. Não me apaixonou da mesma forma que a Big Apple, mas me fez sim imaginar-me neste cenário.
Bueno, pero sabes que? Que será, será... whatever will be will be...